Biblioteca Nacional em Lisboa explica a história da Bíblia

A exposição destaca a época que a Bíblia passou a ser um livro de todos, e não somente da comunidade religiosa

Igreja News e Agência Ecclesia

Uma exposição patente na Biblioteca Nacional até este sábado explica como a Bíblia começou a tornar-se um fenómeno social, a partir do século XIII, com o surgimento das edições de bolso e das primeiras traduções para linguagem corrente.  

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o historiador Luís Correia de Sousa, responsável pelo projeto, sublinha a importância de dar a conhecer um período da História, entre o românico e o gótico, que marcou “a grande explosão” da produção destes livros “para outros públicos” que não os religiosos.

“Até ao século XIII, a produção bíblica era feita em contexto monástico, pelos monges e para os monges, e depois sai para o contexto secular. No fundo deixa de ser um exclusivo da comunidade religiosa, passa a ser um livro para os leigos também”, salienta o investigador.

Na exposição “A Bíblia Medieval: Do Românico ao Gótico (Séculos XII e XIII), encontramos “tesouros” como a bíblia de bolso da rainha D. Mafalda, filha de D. Sancho I; a primeira tradução da Bíblia para francês; e exemplares de manuscritos copiados no ‘scriptorium’ do Mosteiro de Alcobaça, na época um dos principais centros de produção bíblica na Europa.

“Pela primeira vez identificamos dois manuscritos que foram copiados em Alcobaça, no final do século XIII, duas bíblias completas, o que não era comum”, explica Luís Correia de Sousa.

Segundo o historiador, a Bíblia assumiu-se nesta época não só como um objeto religioso mas como ponto de partida para toda uma evolução cultural e económica.

“A quantidade de profissões que nascem à volta da produção do livro, a cultura que temos hoje, dos livreiros autónomos para o público, nasce neste contexto”, aponta aquele responsável.

Um dos fatores decisivos para a mudança do contexto da produção bíblica foi o “grande desenvolvimento das principais universidades europeias, Paris, Oxford e Bolonha”.

 “Paris recebe milhares de estudantes nesse século XIII, parece-nos hoje um bocadinho estranho, não é estranho, e é preciso livros para esta gente. A Bíblia é um manual escolar, não só para o Direito Canónico, para a Teologia, mas para o Direito em geral, é preciso produzir livros”, realça o investigador.

Ainda segundo Luís Correia de Sousa, outro aspeto fundamental foi o surgimento de ordens religiosas mendicantes, como os franciscanos e os dominicanos.

“Já não são religiosos fechados no seu convento e que têm a Bíblia pousada na estante, são ordens que andam na rua, na cidade, e que precisam do livro para andar na mão”, acrescenta.

Deu-se também “o desenvolvimento das cortes e das cidades, da burguesia, há toda uma comunidade que cresce e isso muda tudo na história deste livro e também na história do livro em geral”, ainda antes da invenção da imprensa, no século XV.

“A Bíblia passa a ser um livro muito mais acessível e que é produzido em larga escala. Ainda hoje temos milhares destes manuscritos produzidos no século XIII. A grande difusão da Bíblia começa nesta altura”, complementa Luís Correia de Sousa.

A exposição “A Bíblia Medieval: Do Românico ao Gótico (Séculos XII e XIII), na Biblioteca Nacional até dia 21 de maio, é composta por cerca de 20 exemplares de bíblias manuscritas, de grandes dimensões e de bolso.

O projeto é enriquecido com um conjunto de quadros da pintora portuguesa Ilda David, autora que já assinou centenas de pinturas sobre a Bíblia, tendo colaborado inclusivamente numa nova edição da primeira tradução do livro para português, em oito volumes, coordenada pelo padre José Tolentino Mendonça.

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